domingo, 14 de junho de 2009

O sequestro

Queríamos nos divertir e sequestramos um PM. Realmente era brincadeira. Era só para ver a cara dele, como uma pessoa reagiria. Tínhamos duas armas de brinquedo, uma cada um. Mas eu não revelei que, por segurança, também levei uma de verdade, só para uma eventualidade. Tenho porte de arma, registrada, tudo certinho.
Encostamos nossa camionete na praça, esperamos um momento em que um deles ficou sozinho. Então, chegamos juntos, colocamos a arma na costela dele e pedimos gentilmente para que ele nos acompanhasse. Ele nos seguiu sem resistência, educadamente, um gentleman. Entrou na camionete e levamo-lo para um cafezal.
Fizemos ele descer e caminhar no meio da plantação na nossa frente. Fomos tão burros que nem nos lembramos de tirar a arma dele. Claro, era apenas uma brincadeira, imaginamos que ele seria compreensível quando revelássemos tal propósito.
Depois de caminhar uns 200 metros, eu disse ao meu amigo que poderíamos acabar com aquilo ali mesmo. O PM se ajoelhou e disse que tinha família, etc. Rimos discretamente. Mas meu amigo discordou que já deveríamos acabar a questão naquele estágio, deveríamos continuar a caminhar. Ele deu razão ao meu amigo, dizendo para eu pensar melhor. Eu estava querendo acabar com o sofrimento dele e ele contra mim? Filho-da-puta! Falei para ele: você quer continuar sofrendo? Estou querendo lhe ajudar. Vou deixar você na mão dele, então.
Meu amigo me disse que eu estava falando demais com o outro. Eu disse-lhe que não iria mais adiante e iria parar ali mesmo. E nesse bate-boca tosco nosso, ele saiu do nosso campo de visão, se escondeu a atrás de um pé de café e disparou dois tiros em nossa direção, na minha na verdade.
Porra, estávamos só brincando! Meu amigo sumiu e ele continuou a mirar em mim seus tiros. Eu saquei minha arma de verdade e dei uns tiros também em sua direção, em legítima defesa. E ficamos na espreita um do outro. E fomos distanciando-nos.
Ouvi meu amigo pegar a camionete e ir embora. Fiquei em silêncio atrás de um pé de café e ouvi os passos deles nas folhas secas. Acompanhei-o pelos sons, mapeando a direção dele. Só de sacanagem, dei mais uns tiros em sua direção e o ouvi disparando na correria.
Fui embora para casa também.

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