quarta-feira, 10 de junho de 2009

Atrasado

Acordou apenas 15 minutos mais tarde, mas já se considerava atrasado, pois sempre fazia tudo cronometralmente.
Ligou a televisão para ouvir as notícias matinais e foi escovar os dentes, como sempre. Passou ao banho e depois, à barba. Nisso ouve a notícia de um incêndio: na sua fábrica – como ele dizia. Na verdade, era apenas onde trabalhava, não era o dono. Ele vivia falando minha fábrica. Meu emprego. Mas nem o emprego era dele, pois podia perdê-lo a qualquer, de acordo com o humor do DONO, o verdadeiro dono, da fábrica e do emprego...
No momento em que ouvia a notícia do incêndio, nem sentiu o corte da navalha e o sangue que corria pelo seu rosto. Correu à sala para se certificar. Não acreditava no que via: sua fábrica em chamas. Nem lavou rosto direito, vestiu qualquer roupa e correu para o local.
Ao chegar, foi impedido de se aproximar: ninguém podia ficar a menos de um quilômetro do incêndio. Protestou, brigou, tentou furar o cordão de isolamento, mas não conseguiu nada. Todos achavam que ele era louco: uma pessoa com metade da barba feita, sujo de creme de barbear, com pantufas, com a parte debaixo do pijama e camisa pólo, a dizer que aquela era a sua fábrica.
Ficou ali diante do fogo: vendo um quarteirão inteiro ser consumido pelas chamas. Talvez se não tivesse atrasado...

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