quinta-feira, 22 de abril de 2010

A pescaria

Era a primeira vez que iria pescar. Sempre via alguém pescando: colocavam a vara com uma linha e anzol na ponta. Esperava um pouco e vinha o peixe. Pedi para me comprarem linha e anzol. Cortei vara de bambu, amarrei uma linha com anzol na sua ponta. Fui pra a beira do lago. Joguei o anzol na água e aguardei o peixe vir. Segurava pacientemente a vara mexer. Depois de um tempo senti que algo estremecia o sistema vara-linha-anzol. Dei um tranco. Veio um lambari de uns 3 centímetros. Meu primeiro peixe.
Fui mostrar aos demais, que me perguntavam que isca tinha usado? - Como?

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Debaixo do Caracol

Voltava do serviço; cansado, mas não perdeu o hábito de retornar a pé depois de mais um dia de serviço. Aproveitava para refrescar a cabeça após mais um dia de estresse.
Caminhava sossegadamente com o guarda-chuva que levara, pois chovia naquela manhã ao sair para trabalhar. Sempre atento a tudo que se passava ao redor, notou aquela casinha que parecia se mexer. Parou a olhar. Seria sua visão?
Com o guarda-chuva empunhado, armou o golpe e, como se fosse um taco de golfe, desferiu o lance. Suavemente violenta, a pontinha da haste raspou a superfície do caracol. As partes rodopiaram esfareladas ao ar.
O molusco descasado orientou suas antenas e tentou se mexer. Sentindo toda a pressão do mundo, não ouviu o lamento.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O Agrônico

O agrônico chegou às 15 para 5. Meu expediente (é chique falar assim, né?) termina às cinco e não vou ficar além de meu horário, não. Não ganho horas extras, pensei. Desta vez trouxe um rapaz com ele. Deve ser um desses universitários estagiários. Conheço esse tipo; não sabe nada, vive dentro da universidade com seus livros, roupinha limpa, perfumado e uma vez ou duas por mês vem aqui me ensinar como aplicar o adubo, o fertilizante, os venenos e até como lidar com animais, interferindo na função do estagiário de veterinária; deve ser de vingança, pois o outro também faz o mesmo. Esses universitários filhinhos de papai! Outro dia ainda quis me dar aula de psicologia ou psiquiatria ou sei lá o quê, dá no mesmo! Falou de um tal de Fróide, de umas teorias... Mas cortei logo suas asinhas: escuta aqui moço inteligente, eu também tenho uma teoria (aprendi isso com meu irmão; ele sempre fala que toda vez que a gente for iniciar um assunto deve-se iniciar dizendo que tem uma teoria. É bonito, dá respeito, as pessoas, principalmente esses intelectualóides, gostam de teorias e as respeitam, mesmo que elas não sirvam para nada.), pobre não tem essa coisa de psicologia ou sei lá o quê, não. Pobre tem fome, dor de barriga e bicho de pé (um vizinho meu tinha bicho de pé até na mão, na direita entre os dedos polegar e indicador, bem ali no colinho, na carne macia). Ele parece que não gostou muito! Nem liguei para sua reação; burguesinho metido à besta. Passou toda a vida dentro da sala de aula e vem querer me ensinar como moer cana, podar laranja, café; erguer curva de nível. Suas pranchetinhas nunca servem pra nada. Fazem um monte de cálculo e no final a curva sai reta; na primeira chuva estoura. Imbecis!
Mas nesse dia fui curto e grosso: não vou ficar depois das cinco hoje, não, moço. “É que o carro furou o pneu no caminho”, justificaram-se eles. O pneu deve furar todos os dias, pensei comigo. Tinha dado uma chuva e o estagiário não queria descer para não sujar os pés. Bibelô! Então, voltem amanhã, que hoje não vai dar tempo de regular a bomba; o senhor sabe que não adianta começar esse tipo de serviço e deixar no meio – isso era verdade. Era dez pras cinco, olhei no relógio e comecei a limpar a enxada. O agrônico entrou (dentro do) carro e ficou conversando com seu pupilo. Saiu e disse pra mim: “Deixe a chave do trator e as ferramentas que nós mesmos vamos fazer sem você”. Tudo bem, respondi-lhes, já com um risinho. Eu sabia que eles não iam regular sozinhos aquela bomba, com todos aqueles bicos encravados. A maioria tem de ser solta com alicate e eles nem sabem segurar um alicate. Imbecis, pensei; vão quebrar a cara. Arrumei tudo pra eles, tudo que precisavam e deixei disponível. E fui embora. Desci pra casa pensando: não dou 20 minutos e eles estão batendo na porta pedindo ajuda ou abandonam a empreitada; até porque logo escurece nessa época e os pernilongos atacam, pelo menos se fosse horário de verão!
Errei!
Passou-se meia hora! Antes de tomar banho fui tratar das galinhas e juntar os ovos do dia; estava entrando em casa quando escutei um barulho de carro encostando...

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Eutanásia

Ganhou, de sua irmã, um carrinho de rolimã, mas ele está enferrujando pendurado no pé de romã, desde o dia em que deixou de ser a criança, quando brincava de ciranda na varanda, pra viver nesse mundo sem esperança... Você quer saber por que está deitado, eu vou lhe falar: ele se engasgou com um caroço de castanha-do-pará.
Para de fumar essa desgraça. Senão você também vai se engasgar. E vai para lá, se deitar do lado dele sem se alimentar. Assistindo televisão vendo comercial, de produto importado. Você não precisa morrer como ele. Se quiser você se livra desse estado.
Caramba! que droga é essa que ninguém consegue se livrar? Dizem que é natural e dá em qualquer lugar. No brejo, no mato, no pasto, na serra. Talvez seja por isso que as vacas ficaram loucas na Inglaterra.
Caramba! que droga é essa que ninguém se interessa em discutir se realmente presta. Se faz algum bem. As vacas já morreram mesmo e ele vai morrer também. Não me diz “eu não fumo nem sou contra uso, mas não venha influenciar o meu filho; que isso não é opção e sim uma imposição”.
E isso aqui nem é uma oposição. Mas não tem problema porque nós não temos governo mesmo.

domingo, 23 de agosto de 2009

Os insetos

Escureceu e os insetos atacaram. Nosso pai logo correu a encher uma lata com estrume de vaca seco lá no pasto. Atiçou fogo à matéria que aquilo enfumaçou toda a casa, e antes dos insetos, saímos nós.
Fomos lá para fora. Forramos um plástico na grama e todos sentamos em torno de nosso pai para ouvir suas histórias. Ali, mundo a céu aberto, foi nosso clã; as árvores foram as paredes; o céu, o telhado; a lua, o lampião; entre uma risada e um tapa nos pernilongos (nunca conseguimos acertá-los, o tapa é puro reflexo) ouvimos nosso pai contar histórias de leão, onça, macaco, coelho, rato, barata, formiga...
Daí a pouco, a voz quase estridente. É minha mãe! Outro mundo! Parede de barro pisado, telhado de telhas velhas esburacadas e madeiras já escuras da fumaça do fogão de lenha. Lamparina de querosene... hora de ir à escola! Que pena!

sábado, 18 de julho de 2009

A festa

Fui convidado para uma festa.
O lugar era distante. Uma fazenda, eu acho.
A chegada não sei como foi, pois dormi no carro a caminho e desmaiei na volta. Era um lugar que parecia um vulcão extinto. No fim o fogo apareceu! No alto, à frente, bem lá em cima, duas fileiras de casas. No pé do morro, uma igreja à esquerda. À direita, uma grande casa, deveria ser do administrador, onde se realizaria a festa - na verdade, na frente da casa, numa espécie de pátio.
Fogueira acesa. Seria festa junina? De fato serviram pipoca e outros quitutes. Mas não chegava a ser uma festa junina típica, embora não estivesse em momento algum apto a fazer qualquer julgamento desse tipo. De qualquer modo, tinha cerveja, da qual bebi.
Além das pessoas com quem eu fui – que me levaram – não conhecia mais ninguém. Que me importava! As conversas eram as mais chatas possíveis. A ceveja era boa: original. Bebi sem cerimônias. Sem brindes, inclusive. Acho a maior frescura essa coisa de brindar.
Na festa não aconteceu nada demais. Muitos fingindo estarem felizes, sorrisos falsos. Beijinhos nos rostos ainda mais falsos das meninas. Alguns “dançavam”. Outros dançavam no xaveco. Eu bebi! Creveja, original.
Enfim a festa ficou monótona – ainda mais? – todos estavam rodando, sem nenhum sentido. Rodavam e não saiam do lugar. Estavam dançando? Que festa chata. Aproveitei para beber mais veja.
Dei graças a deus quando me chamaram – pegaram – para ir embora. Só pedi mais uma ja e fomos para o carro. Boa noite...

terça-feira, 16 de junho de 2009

Visão

Amanheceu um dia lindo. Saí à janela para ver o Nascer-do-Sol. Tudo maravilhoso. Avistei um só minúsculo ponto negro no horizonte. Movia-se lentamente. E veio se aproximando. E aumentando de tamanho.
A uma distância média de minha visão, dobrou à esquerda, então percebi que era um urubu.
Fez uma curva e voltou-se para meu lado. Chegou bem perto de mim. Sobrevoou minha casa. Plainou. Perdi-o de vista. Retornou.
Deu algumas voltas; acelerou. Deu um loop e... caiu. Esborrachou-se no chão. Achei que estava sonhando. Só podia estar sonhando.
Fechei a janela e voltei a dormir...